Resenha crítica: Como fazer amigos e influenciar pessoas.

Manuela Calhau

21/06/2024

Você já parou para pensar como as habilidades de comunicação e influência podem impactar diretamente suas estratégias de marketing? O renomado autor Dale Carnegie, no famoso livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, oferece insights valiosos que podem ser utilizados para impulsionar suas campanhas de marketing. Mas será que este livro é realmente tudo isso o que as pessoas dizem? É isso que vamos mostrar.

Eu costumo ser bem crítica nos livros que consumo, e uma das lições mais importantes que eu aprendi na minha vida literária é que quando vamos analisar uma obra precisamos nos fazer 4 perguntas: Quem é o autor? Por que ele escreveu a obra? Quando ele escreveu a obra? Para quem ele escreveu a obra? Depois de responder essas perguntas, conseguimos ir mais a fundo no que o autor queria dizer e se podemos levar-la em consideração.

Quem é o autor?

Dale Carnegie, nasceu em 24 de novembro de 1888, cresceu em uma fazenda em Maryville, Missouri. Desde jovem, ele demonstrou interesse em comunicação e debate, atividades que perseguiu ao longo de sua vida acadêmica na State Teacher’s College, em Warrensburg, Missouri. Após a faculdade trabalhou brevemente como vendedor e posteriormente, tentou a carreira de ator em Nova York (uma prática muito comum na época, com o desenvolvimento do cinema nos EUA), onde não obteve sucesso. Retornando a Nova York, começou a ensinar cursos noturnos de oratória e habilidades interpessoais.

Se apaixonando pela área, Carnegie começou a dar cursos que ganharam popularidade em 1912, onde fundou a Dale Carnegie & Associates, Inc. Ele começou a compilar seus ensinamentos em livros, resultando na publicação de “Como fazer amigos e influenciar pessoas”em 1936. O sucesso instantâneo do livro o estabeleceu  como uma figura influente no campo do desenvolvimento pessoal.

Dale Carnegie faleceu em 1 de novembro de 1955, mas seu legado continua através de Dale Carnegie Training, uma organização global que oferece cursos baseados em seus princípios. A instituição tem milhões de alunos onde promete melhorar suas habilidades de comunicação, liderança e vendas, aplicando os métodos desenvolvidos por Carnegie.

Por que ele escreveu "Como fazer amigos e influenciar pessoas"?

Não encontrei fontes mais específicas sobre, mas segundo o próprio Dale, ele faz o livro com o objetivo de compartilhar os princípios e técnicas que ele havia desenvolvido e refinado em seus cursos de oratória e habilidades interpessoais. Ele diz que muitas pessoas tinham dificuldades em se relacionar e comunicar eficazmente, o que limitava seu sucesso pessoal e profissional. Então ele queria oferecer um guia prático e acessível para ajudar as pessoas a melhorar suas habilidades de comunicação, construir relacionamentos positivos e influenciar os outros de maneira ética e eficaz. O livro reflete sua crença de que o sucesso na vida depende, em grande parte, da capacidade de interagir bem com os outros.

Essas em suas palavras são suas motivações. Tenho algumas ressalvas quanto algumas afirmações vagas como: “ética”, “sucesso”. Ainda mais porque essas coisas não são especificadas, deixando  a mercê da concepção do leitor. Principalmente porque em alguns momentos ele utiliza de exemplo, pessoas eticamente questionáveis. Um deles é um general dos confederados americano, que Carnegie utiliza para explicar um conceito de nobreza. Para quem desconhece a história, os confederados é um grupo que apoiava a escravidão nos EUA, que foi o causador inclusive da guerra civil norte americana. Acho questionável a utilização de uma pessoa dessa para explicar um conceito sobre nobreza.

Para quem ele escreveu este livro?

Segundo Carnegie, ele escreveu este livro para um público amplo, incluindo profissionais de negócios, vendedores, líderes, estudantes e qualquer pessoa interessada em melhorar suas habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal. O livro é particularmente útil para aqueles que buscam sucesso nas áreas de vendas, liderança e gestão, onde a capacidade de influenciar e motivar os outros é crucial. Além disso, é direcionado a pessoas que desejam aumentar sua popularidade, persuadir os outros a pensar de forma diferente e liderar mudanças sem causar ressentimentos.

Quando ele escreveu este livro?

“Como fazer amigos e influenciar pessoas” foi publicado pela primeira vez em 1936. O contexto histórico da época, incluindo a Grande Depressão, influenciou a recepção e relevância do livro. Durante um período de grandes desafios econômicos e sociais, muitos americanos estavam em busca de maneiras de melhorar suas vidas e carreiras. O livro de Carnegie ofereceu um caminho prático e positivo para alcançar esses objetivos, utilizando técnicas comprovadas de interação humana e comunicação eficaz.

O questionamento que fica é que, um país passando por uma grande crise, faz com que a população tenha muitos problemas e comece a ficar desesperada. Esse momento é perfeito para a criação e popularização de picaretas e charlatões, um exemplo disso mas falando de hoje em dia é a popularização de casas de apostas virtuais.

Sobre a obra

Se eu pudesse resumir a uma palavra este livro, eu diria que ele fala sobre empatia. Todo mundo se acha bom, honesto e estar fazendo o certo, mesmo que ela esteja fazendo claramente algo ruim. Pense em todos os criminosos, a maioria deles acredita estar fazendo o certo. O livro nos incentiva a pensar o mundo pelo olhar do outro, mesmo que você não concorde.

Este livro possui 256 páginas e é muito simples, com uma leitura bem básica e fácil. Com o acompanhamento de um Audiobook, é possível  ler este livro em 1 dia ou 2. Ele é separado em 4 partes: Como lidar com pessoas; Como fazer com que os outros gostem de você; Como convencer os outros; Como ser líder. Nesta resenha vamos seguir exatamente essa estrutura.

Parte 1: Como lidar com as pessoas

Carnegie nesta primeira parte do livro, separa algumas das lições mais versáteis e fáceis de serem usadas em uma conversa. São três princípios que podem fazer uma grande diferença para você causar um boa primeira impressão.

Nunca critique, condene ou reclame: Evitar as críticas, condenações e as reclamações, vão evitar um ressentimento pela outra pessoa. Ao invés disso é mais eficaz e construtivo, buscar maneiras de abordar o problema de forma positiva e proativa. Basicamente foque nas soluções ao invés de tentar “ensinar” a outra pessoa. Pense em trazer uma positividade no ambiente e encoraje as pessoas a resolver os problemas de forma colaborativa.

Fora isso, demonstrar que aprecia o outro, com elogios e interesse, você cria um ambiente confortável. Gratidão, generosidade e empatia de forma sincera mostra para a outra pessoa que você é  compreensível, e isso faz você parecer uma alguém mais confiável.

A maioria das pessoas tem objetivos diferentes, e isso pode ser bem estranho, já que usamos o que fazemos como régua. Atente-se que as outras pessoas podem ter objetivos, e até mesmo ter um conceito de sucesso bem diferente. Entenda isso, se ponha no lugar da pessoa, e tente entender o porque ela tem tais objetivos.

Parte 2: Como fazer com que os outros gostem de você

Ninguém liga para o seu objetivo, metas ou sonhos, todo mundo está preocupado com suas próprias vidas, e todo mundo está acostumado com isso. Este princípio vem exatamente para quebrar isso, se você deixar seus interesses de lado, e pensar nos da outra pessoa, você vai facilmente se destacar, e não vai só mostrar que você é uma pessoa empática, mas também que você é uma pessoa valiosa de ter por perto. 

Só de você juntar esses princípios já vai conseguir sair da água para o vinho, mas acredito que uma das ações mais simples e que fazem uma grande diferença é um sorriso. O sorriso desarma as pessoas, e todo mundo gosta de alguém alto astral. Fora isso, lembre-se sempre do nome da pessoa. Não existem nada melhor para ouvir do que o próprio nome.

Essas dicas são tão importantes, que qualquer curso de vendas te ensina isso como uma coisa fundamental. Inclusive, junto com isso vem a escuta ativa, que também é outro princípio da venda. As pessoas gostam de falar, se você está ouvindo mais do que falando, provavelmente você está causando uma boa impressão, e muito importante, não interrompa a outra pessoa.

Nós normalmente focamos nós focamos apenas nos nossos interesses e problemas, se você quer que outra pessoa goste de você, fale sobre o que interessa ela, e junto disso sempre elogie a pessoa, mostre que ela é importante.

Parte 3: Como convencer os outros

Uma das coisas mais perigosas quando queremos convencer alguém, é discordar diretamente. Isso é um problema imenso, por que se isso segue para uma discussão, e todo mundo sai perdendo em uma discussão. Já que ninguém muda a ideia de ninguém e os dois saem com os egos feridos.

A melhor maneira de ganhar uma discussão é evitá-la, lembre-se o que você quer é convencê-la, não vencer dela em um debate para se sentir superior. Seguido disso, nunca diga que a pessoa está errada, sempre utilize de uma abordagem mais simples e amigável como “Já parou para pensar por esse lado…”, “O que você acha se seguirmos assim…”. Desta maneira, você mostra que a opinião da pessoa é importante, e ela fará o mesmo com você, assim vocês chegarão a uma conclusão mais estruturada.

Acredito que para este capítulo a parte mais importante é desarmar a pessoa. Normalmente ficamos com a guarda levantada para opiniões alheias, mas como deixar uma pessoa mais suscetível a uma ideia nova? Uma dessas maneiras é expor seus erros, assim você sai de um pedestal, fazendo com que o outro faça o mesmo. Por exemplo: “Quando eu comecei neste programa eu errava demais, era o pior de todos, mas o que me ajudou a ir melhorar foi…”.

Junte essas dicas com a de ser mais próximo da outra pessoa. Nunca imponha o que você quer, sempre dê como sugestão e peça como um amigo. Esse princípio é até mais fácil de ter exemplos, porque vemos isso no mundo corporativo de forma frequente. Sempre que você for tentar convencer alguém faça a pessoa dizer sim repetidas vezes, utilize a escuta ativa. De forma geral é só ter empatia, e se pôr no lugar do outro.

Busque valorizar as outras pessoas, se você quer convencer mesmo alguém, esqueça que a ideia foi sua, e dê todos os créditos ao outro. Fora que você tem uma reputação a zelar, seja solidário, faça com que as pessoas sintam que você ajuda os outros. Junte isso com apelar por motivos nobres, fica mais difícil de discordar de você.

E esse princípio me deixa um pouco com o pé atrás, porque o Carnegie pede que você praticamente encaixe o que você quer em um motivo nobre, e isso pode ser muito ruim. Se olharmos para qualquer curso golpista sempre tem algum motivo “nobre”. Mesmo que seja algo que funcione, muita das vezes é o puro oportunismo.

Mas não paramos por aí, o autor também pede para você ser dramático e desafiador. Então você vai colocar o que você quer em uma causa nobre, vai deixar isso mais dramático, ou seja vai aumentar os problemas e desejos do seu pedido e depois disso ainda, ele fala que é interessante colocar o outro em uma posição de desafio, para convencê-lo na base da emoção. Exemplo:

 “Eu sei que você quer ir para casa agora, eu também quero! Mas se terminarmos isso, vai ajudar muito a empresa, e assim você vai conseguir realizar suas metas que tanto queria. E eu quero te ajudar, sei o quão importante isso é para você, mas para isso, precisamos fazer terminar o projeto primeiro. Acha que consegue me ajudar nisso?”

Parte 4: Como ser líder

Basicamente, esta parte do livro é bem parecido com a anterior, vão mudar apenas alguma maneiras de dar um feedback por exemplo. Sempre que você for dar um feedback para um liderado seu, elogie antes de criticar e nunca critique de forma direta. Uma ação que pode ajudar ainda mais é começar falando dos seus erros.

Assim como para convencer uma pessoa, nunca dê ordens para ela, sempre faça como uma sugestão, para desarmar mesmo com seu liderado, e não criar um ambiente combativo. E como sempre, tenha empatia, saiba o que o seu liderado sente em relação as tarefas, e nunca passe por cima disso, e quando for dar um feedback, incentive para o sucesso, para ele continuar e seguir em frente.

Por exemplo, imagine uma situação onde um liderado seu, faz alguma coisa errada, ao invés de repreende-lo, mostre como você já fez coisas erradas, entenda como ele se sente em relação aquela tarefa e aos seus próprios resultados e mostre como ele pode fazer certo e superar suas dificuldades, e se for algo a longo prazo, mostre como ele poderá ser melhor num futuro. 

Agora quando um liderado seu fizer algo positivo, lhe dê uma boa reputação, com elogios, e o recompensando moralmente. Há várias maneiras de motivar um colaborador, mas uma delas é fazendo com que os problemas deles sejam mais fáceis do que parece. Não desmereça o problema dele de jeito nenhum, mas mostre como pode ser simples resolvê-lo, e demonstre estar realmente interessado m resolver o problema dele.

E por fim, sempre deixe o outro feliz por seguir seus conselhos, recompense seus colaboradores, dando a eles uma autoridade, dando uma recompensa moral, ou até mesmo dando uma recompensa material mesmo, com um presente ou uma bonificação.

Conclusão

Como fazer amigos e influenciar pessoas, é um livro simples, e fácil de ler. Acredito que tenha valido muito a pena ter lido. Uma obra essencial para qualquer pessoa que quer trabalhar com público. Além de mostrar uma das virtudes que acredito ser uma das melhores para se ter, a empatia.

Esta obra me lembrou muito um livro chamado: Um pequeno tratado das grandes virtudes. Um livro de filosofia que tem como foco o estudo das virtudes. Logo nos primeiros capítulos, ele aborda a Polidez. Que é uma virtude de uma pessoa que domina a fala e o comportamento, e utiliza disto um meio para conseguir o que quer, sem ter como desculpa a ignorância, como um bárbaro por exemplo (seu oposto). “Como fazer amigos e influenciar pessoas” para mim, é o aprendizado desta virtude. A questão que fica é: qual o limite entre o convencimento, persuasão e a manipulação? Uma pessoa polida, mesmo que consiga ver pelo olhar do outro, não significa que ela se importa com isso.

A leitura deste livro, me trouxe esse questionamento. Temos até exemplos sobre isso, quando o Rockfeller para a greve (um exemplo dado no livro), ele pode fingir que entende os sentimentos de seus funcionários pela polidez, mas, a greve vai contra seus interesses. Então mesmo que ele saiba de fato, isso não significa nada. Ou seja, essas técnicas são uma ferramenta para um objetivo, e não algo moral, como ser uma pessoa melhor por se por no lugar do outro.

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine nossa newsletter

Seja avisado sempre que surgir conteúdo novo

Edit Template
plugins premium WordPress
Logo sem fundo - agencia doco

Faça seu login

Faça seu login ou cadastre-se para ter acesso a conteúdos exclusivos da doco.